Um esquema complexo envolvendo juízes do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA), conhecido como “Liga da Justiça”, está sendo investigado pela Polícia Federal, Ministério Público da Bahia (MP-BA), Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e pelo próprio TJ-BA. Além de suas funções judiciais, os magistrados são suspeitos de atuarem como agiotas em Porto Seguro, prática que foi identificada pela Corregedoria-Geral de Justiça (CGJ) do TJ-BA durante uma sindicância na comarca do sul do estado.
No último domingo (25/8), uma reportagem do programa Fantástico, da Rede Globo, revelou áudios e mensagens que implicam os juízes André Marcelo Strogenski, da 1ª Vara Criminal, Júri e Execuções Penais; Fernando Machado Paropat Souza, da 1ª Vara dos Feitos Relativos às Relações de Consumo, Cíveis, Comerciais, Consumidor e Registro Público; e Rogério Barbosa de Sousa e Silva, da Vara da Infância e Juventude e Execução de Medidas Sócio-Educativas. As conversas mostram os magistrados negociando empréstimos com condições específicas, configurando agiotagem.
Em uma das mensagens divulgadas, o empresário Henrique Nolasco, apontado como operador do esquema, solicita um empréstimo ao juiz Fernando Machado Paropat: “Se o senhor tiver talvez entre 30 e 50 mil naquele negócio daquela taxa a dois por cento pra mim, se o senhor tiver é capaz de eu precisar”. Em outra conversa, Nolasco menciona o promotor Wallace Carvalho, também envolvido no esquema: “Eu não tava querendo mexer com o doutor Wallace porque o juro dele é maior, entendeu? Em torno de 3, 3 e meio, e lá no outro eu ia conseguir menos”.
Além disso, prints de conversas entre Nolasco e uma servidora do TJ-BA, obtidos pelo Fantástico, revelam a extensão do esquema de agiotagem. A servidora pergunta sobre a possibilidade de um empréstimo com o promotor Wallace: “Será que Dr. Wallace não tem dinheiro nenhum para emprestar? Seria uns 10 mil, o que puder”. Nolasco responde: “Wallace falou que comprou um imóvel. Vou tentar Dr. Rogério”.
O grupo também enfrenta acusações de grilagem de terras no sul da Bahia. De acordo com documentos da Corregedoria-Geral do TJ-BA, os magistrados, junto com um promotor de Justiça e um advogado, adquiriram uma área de 60.000m², criando uma sociedade em um empreendimento imobiliário com 76 lotes individualizados, sendo 8 destinados a cada juiz. A investigação aponta que o empreendimento, denominado “Arraial Costa Verde”, está praticamente vendido, restando apenas um lote de 4.000m². A ata da correição também indica um aumento patrimonial significativo de “pessoas politicamente expostas”, incluindo os magistrados e o promotor envolvidos.
Fonte: Bahia Notícias