Vítima de abuso na infância, Jessica Martinelli transformou sua dor em força e, anos depois, conseguiu prender seu agressor ao se tornar policial civil. A história, marcada por desafios e superação, foi registrada por ela no livro “A Calha”, lançado no final de 2024, com o objetivo de dar voz a outras vítimas e incentivá-las a denunciar.
Abuso e Busca por Justiça
Jessica foi vítima de abuso entre os 9 e 11 anos de idade por um amigo da família, que na época tinha 33 anos. Sem apoio para relatar o que acontecia, desabafava com amigas e uma vizinha. Aos 15 anos, com o incentivo de uma das mães de suas colegas, decidiu denunciar o crime à polícia. No entanto, enfrentou dificuldades para que sua denúncia fosse levada a sério pelas autoridades.
A experiência traumática foi um dos motivos que a levou a escolher a carreira policial. “Eu via nas policiais femininas uma força que eu queria ter“, relatou. “Não é que eu entrei para a polícia para prender. Porque eu não imaginava que um processo levaria 10 anos. É que as coisas foram acontecendo. E deixe bem claro que as coisas só foram acontecendo porque eu ia mover as coisas, senão não ia acontecer”.
“Quando nós estávamos indo, era como se eu tivesse tido felizmente aos 11 anos de idade. Eu estava dentro da viatura, mas eu tinha um misto de coragem: ‘Eu sou uma policial, eu vim prender o cara que fez tudo que fez comigo’. E, ao mesmo tempo, dava aquela tremedeira, muita ansiedade, medo.Sei lá, medo de ele fazer alguma coisa para mim”. “Os meus colegas o revistaram, mas fui eu que bati a porta da cela. É a sensação realmente de encerramento de um ciclo de 10 anos. Um ciclo muito doloroso, que nenhuma vítima deveria ter que passar”, resumiu.
Aos 25 anos, após se tornar policial civil em Chapecó, no Oeste de Santa Catarina, ela conseguiu a prisão de seu agressor em 22 de dezembro de 2016, participando pessoalmente da operação. “Foi como encerrar um ciclo de 10 anos de dor“, disse.
Impacto e Conselhos para Outras Vítimas
Atualmente, Jessica trabalha na Polícia Civil e usa sua trajetória para apoiar outras vítimas. Oito anos depois, aos 33, escreveu um livro, lançado no final de 2024, para contar essa história. além de relatar sua história, ela busca conscientizar sobre a importância da denúncia e da superação. “É essencial entender que a vítima nunca tem culpa. Guardar esse trauma só faz mal. É preciso falar, confiar em alguém e buscar justiça“, enfatizou.
O agressor dela já está em liberdade devido à legislação da época do crime, que era mais branda. Ainda assim, Jessica acredita que sua luta serviu para inspirar outras vítimas a não desistirem da busca por justiça.