A atuação dos chamados “olheiros” – informantes que alertam facções sobre a movimentação de moradores e policiais nas ruas – tem sido substituídos por câmeras clandestinas de monitoramento em Salvador. Em regiões como Federação, Centro, Subúrbio Ferroviário e Vila Verde, esses dispositivos, instalados ilegalmente, servem como os novos olhos do tráfico, proporcionando vigilância constante sobre moradores e permitindo que os infratores antecipem a chegada da polícia.
Essas câmeras são instaladas de forma estratégica, principalmente em postes, e escondidas dentro de caixas de internet para se camuflar nas vias públicas. Um policial militar, que prefere não ser identificado, revelou que o esquema já foi detectado em diversos pontos da cidade. “Eles pegam as caixas de internet que estão nos postes, fazem furos e colocam as câmeras dentro. Tentam disfarçar, mas a gente percebe e sempre retira. O problema é que, mais cedo ou mais tarde, coloca de novo. Só na nossa região, nesse ano, a gente tirou mais de 30”, relata o PM, que atua nas imediações do bairro Federação.
As câmeras, conforme o policial, são posicionadas em locais que permitem ampla visibilidade da área, especialmente próximas a pontos de tráfico ou em vias de acesso que levam até bocas de fumo. “É sempre antes da boca de fumo ou em um ponto onde eles podem ver a chegada da polícia de longe”, explica. Um desses locais, a Rua Mata Maroto, na Federação, já foi alvo de diversas instalações para monitorar o campo de acesso ao Vale da Muriçoca, região conhecida pela atuação da facção Bonde do Maluco (BDM) e frequentemente usado como esconderijo por traficantes.
Mesmo com as remoções frequentes, o reaparecimento das câmeras mostra o nível de organização das facções, que recorrem a tecnologias de baixo custo para fortalecer o controle sobre determinadas áreas e se proteger contra operações policiais. Com o avanço da tecnologia, as facções têm se sofisticado e buscado novas formas de manter o controle sobre seus territórios e intimidar a população local.